O uso de combustíveis fósseis para a geração de energia é o maior contribuidor humano para as mudanças climáticas. Dos diferentes combustíveis fósseis, o carvão é o pior. Apesar disso, ao invés de eliminar gradualmente o uso dos combustíveis fósseis, muitos países estão aumentando a sua dependência neles, sem pensar nas consequências no longo prazo.
Mas ainda existe esperança: um grupo cada vez maior de pessoas está desafiando a expansão constante da indústria dos combustíveis fósseis e está promovendo soluções reais para as nossas necessidades atuais de energia. Para evitar uma catástrofe climática sabemos que precisamos acabar com a nossa dependência em combustíveis fósseis e investir em energia renovável, sustentável e acessível.
CARVÃO no Mundo
O combustível fóssil mais sujo e o nosso maior obstáculo para cumprir os objetivos globais do clima
O mundo ainda depende fortemente no uso de carvão para produzir energia. Um terço de toda a energia do planeta vem do carvão. Isso acontece apesar de sabermos que o carvão é o principal contribuinte para as mudanças climáticas, que é a fonte de energia menos eficiente, que consome e contamine grandes quantidades de água, que mata 350.000 pessoas por ano pela poluição causada pelas centrais de energia alimentadas a carvão, e que pode causar um aumento na temperatura do planeta de entre 4 e 6°C.
A queima de carvão é responsável por 46% de todo o dióxido de carbono emitido no mundo e por 72% do total dos gases de efeito estufa do setor da eletricidade. Isso apesar de só produzir um 28% da energia que usamos no planeta.
A evolução do consumo de carvão, petróleo e gás nos próximos anos vai ser um elemento fundamental para enfrentarmos as mudanças climática. Se queremos limitar o aquecimento global a menos de 2°C sobre os níveis pré-industriais, que é o compromisso que assumimos no Acordo de Paris, precisamos eliminar o uso de carvão em poucas décadas, de acordo com a Agência Internacional da Energia (AIE). E mais, para ficar por baixo dos 2°C, estima-se que um terço de todas as reservas de petróleo, metade das reservas de gás e mais de 80 por cento das reservas atuais de carvão devem permanecer ociosas até 2050. A AIE calculou em 2011 que para termos uma probabilidade de 50% de ficar por baixo dos 2°C de aquecimento global, não poderíamos desenvolver novas infraestruturas para combustíveis fósseis depois de 2017. Infelizmente, isso não foi o que aconteceu.
Bem pelo contrário, de fato estamos indo na direção oposta: o carvão foi a fonte de energia primária que mais cresceu na década passada. Entre 2001 e 2010, o consumo mundial de carvão aumentou em 45%. Durante esse mesmo período, o valor de emissões de gases de efeito estufa por ação humana foi o maior registrado na história da humanidade.
Na seguinte imagem podemos ver as centrais de energia alimentadas a carvão no mundo que estão atualmente em uso (em amarelo na imagem) e aquelas que estão sendo construídas (em rosa e roxo na imagem).
Você pode ver todas as centrais em detalhe usando este mapa interativo.
Se os planos atuais para construir até 1.200 novas centrais de energia alimentadas a carvão no mundo se concretizarem, as emissões de gases de efeito estufa dessas centrais nos colocaria em um caminho irreversível e catastrófico de mudanças climáticas,e poderia causar um aumento das temperaturas globais de mais de 5°C em 2100.
Os seis maiores produtores de carvão no mundo em 2017 foram responsáveis por cerca de 85% do consumo mundial total, com 46% na China, seguida pelos EUA (10%), Indonésia, Austrália e Índia (com quase 8%) e Rússia (5,5%).
A China e a Índia são os países que mais estão aumentando seu consumo energético e ambos dependem fortemente do uso de carvão. Enquanto nos EUA e na UE o consumo de carvão diminui lentamente (2% por ano), ele aumenta nos países em desenvolvimento, especialmente na Ásia e concretamente na Índia e na Indonésia.
As reservas globais de carvão não têm mudado muito nos últimos 20 anos. Entre 1997 e 2017 as reservas diminuíram de 1.1 trilhão de toneladas a 1 trilhão. A maioria dessas reservas estão localizadas nos EUA (24%), Austrália e Rússia (com 15-15% cada), Índia e Europa (com 10% cada). Nas taxas atuais de consumo, as reservas existentes durarão ainda 134 anos e emitirão quase 2.000 gigatoneladas de CO2 se forem utilizadas na sua totalidade.
Um perigo para a nossa saúde
O carvão já foi reconhecido como a fonte de eletricidade mais mortal no planeta. Estima-se que ele custa a vida de 280.000 pessoas por cada 1.000 terawatts hora produzidos.
Como explicamos neste vídeo, a OMS mostrou que a poluição do ar mata por volta de 7 milhões de pessoas por ano, e tanto a mineração como a preparação, o transporte e a combustão do carvão são muito poluentes.
PETRÓLEO NO MUNDO
Os maiores produtores de petróleo em 2017 foram (de novo) os EUA (com 16% da produção global), seguidos pela Arábia Saudita (13%), Rússia (12%) e uma série de outros países com 3-5% do total da produção global (Irã, Iraque, China, Canadá, Emirados Árabes, Brasil, Kuwait). Atualmente, os países com as maiores taxas de aumento de produção são os EUA, Canadá, Líbia, Irã, Brasil e Kazakhstan.
Os maiores consumidores de petróleo no mundo são (de novo) os EUA (20%), seguidos pela UE (14%) e pela China (13%), seguidos por sua ez por vários países com 3-5% do total global (Arábia Saudita, Brasil, Rússia, Japão).
As reservas globais de petróleo em 2017 não variaram muito em comparação com o ano anterior, mas aumentaram nos últimos 20 anos. Novas tecnologias, como a perfuração horizontal, a New technologies like horizontal drilling, a recuperação aprimorada de petróleo, o gás de xisto e as areias de óleo, assim como a perfuração no oceano profundo têm aumentado o número de reservas de petróleo. E o derretimento do Ártico poderia ainda revelar novos campos de petróleo de águas profundas que ainda não têm sido explorados.
De acordo com a BP, as reservas globais de petróleo chegam atualmente às 240 bilhões de toneladas e could poderiam alimentar o mundo pelos próximos 50 anos se continuarmos com as mesmas taxas de consumo. Se utilizadas, essas reservas poderiam emitir por volta de 560 bilhões de toneladas de CO2, o que poderia nos conduzir a um aumento de 4-6°C da temperatura global.
Os países com as maiores reservas de petróleo hoje em dia são Venezuela (18%), Arábia Saudita (16%), Canadá (10%), Irã e Iraque (por volta de 9% cada), e os Emirados Árabes, Kuwait e Rússia (uns 6% cada).
GÁS no Mundo
A produção de gás fóssil, também conhecido como “gás natural”, ainda é controlada por uns poucos países, com os EUA no topo (20%) seguido por Rússia (17%), e Irá, Qatar, Canadá e China, cada um com cerca de 4-6% do total global. Porém, os países com as taxas mais altas de aumento de produção são Brasil, Kazakhstan e Austrália (com um quinto do crescimento de produção no ano passado).
Os principais consumidores de gás em 2017 foram os EUA com 20% do consumo total, seguidos pela Europa com 14% e a Rússia (11%).
Como no caso do petróleo, as reservas globais de gás fóssil têm aumentado nas últimas décadas, assim como o seu consumo. Concretamente, a produção aumentou 52% desde 1997. As maiores reservas de gás no mundo estão em Rússia e Irã (com cerca de 18% cada), depois vem Qatar e Turkmenistan (com cerca de 12% cada), e os EUA e Arábia Saudita (cerca de 4% cada). As reservas atuais de gás fóssil podem durar uns 52 anos se continuarmos com as taxas atuais de consumo, e a queima total dessas reservas produziria a liberação de cerca de 370 gigatoneladas de CO2.
As emissões provenientes de combustíveis fósseis são muito desiguais no mundo, o que gera injustiça social quando os países que menos contribuem para as emissões são os que sofrem mais duramente as consequências. Neste atlas, criado pelo jornal The Guardian, podemos visualizar a situação da poluição:
Também recomendamos este mapa interativo sobre projetos de gás pelo mundo afora.
A Alternativa - Energia Renovável
Para acabar com a nossa dependência em combustíveis fósseis é necessário investir em opções de energia limpa e sustentável.
A energia renovável, aquela que, ou não produz ou produz níveis baixos de poluição e gases de efeito estufa, está cada vez mais competitiva em comparação com as fontes de energia convencionais.
As renováveis são, de longe, as fontes de energia que mais crescem no mundo, e hoje são responsáveis por cerca de 14% da energia primário do mundo. Desde 2008, o preço das placas solares diminuiu em 75%. De acordo com o Deutsche Bank, 19 mercados regionais no mundo já atingiram “paridade na rede,” onde as placas solares igualam ou melhoram os preços da eletricidade local sem subsídios.
Mesmo considerando o transporte pessoal, os combustíveis fósseis não são a solução: o número de carros elétricos já chega a 15% da frota de carros, e devido à alta intensidade com que são utilizados, eles são responsáveis de 30% dos quilômetros feitos em veículos de passageiros. Se combinarmos isso com uma produção de eletricidade alimentada por energias renováveis podemos ter no futuro um transporte limpo.
No nível político, os países estão lentamente acordando para a necessidade de ação: 13 dos 77 países alimentados por carvão – junto com 51 outros países e organizações – se comprometeram a acabar com o carvão como fonte de energia, como parte do Powering Past Coal Alliance.
O MUNDO POR REGIÕES
Sul da Ásia
Índia
Índia é a terceira maior economia do mundo. O país tem crescido muito nos últimos anos, o que tem causado um grande aumento no consumo de energia. Em termos globais, o consumo energético da Índia aumentou de 3,7 a 5,3% do consumo total do planeta na última década. Apesar disso, 244 milhões de moradias ainda não tem acesso à energia elétrica.
Atualmente, a porcentagem de carvão na matriz energética primária da Índia é de 57%, a do petróleo é 27%, e a do gás natural é 6%. Enquanto isso, as energias renováveis fornecem um 4%, a energia hidrelétrica um 4% e a energia nuclear um 1%.
Existe uma crescente rejeição política e financeira à criação de novas usinas a carvão, e a indústria de energia renovável índia evoluiu de uma oportunidade de investimento em estágio inicial para uma de risco baixo-médio e com crescimento médio-alto. De fato, o governo da Índia prevê que a capacidade de energia renovável do país será quase 50% maior do que o estabeleceu como meta no Acordo de Paris, e o fará três anos antes do planejado. A previsão também inclui que a Índia produzirá 57% da sua eletricidade utilizando fontes de energia não-fósseis até 2027, e que depois dessa data não serão necessárias mais usinas a carvão para produzir energia no país.
Alguns temas interessantes para jornalistas são: as usinas de carvão que estão projetadas, os investimentos índios em usinas de carvão em outros lugares do mundo, o futuro do investimento em energias renováveis na Índia e como a transição energética a fontes renováveis pode significar em termos de acesso à energia para as pessoas mais pobres do país.
Paquistão
O Paquistão dependia até há pouco da energia produzida por petróleo, mas com os preços baixos do carvão, novas usinas podem ser construídas nos próximos anos. O governo tem um foco muito grande em expandir a indústria dos combustíveis fósseis.
O país sofre frequentes cortes de energia, o que tem um impacto negativo na economia. Apesar de ter uma grande capacidade para produzir energia, a mesma não consegue atender a grande demanda que ocorre durante os horários de pico do país. Alguns grupos têm pedido um aumento na geração de energia, e inclusive duplicar a produção de gás. O resultado dessa crise energética tem sido a procura por parte do governo de fontes de energia baratas.
Os novos planos do governo para aumentar a capacidade energética do país incluem a construção de centrais hidrelétricas e projetos de energias renováveis, mas também o investimento em carvão.
Um dos planos estuda a mineração de reservas de carvão em áreas quase intocadas, como o deserto de Thar Desert, na província de Sindh, no sul do país. A mesma companhia envolvida nesse projeto, a Sindh Engro Coal Mining Company (SECMC), também está construindo uma usina de carvão de 660 MW. Populações locais têm protestado contra esses planos alegando que poluem e ameaçam suas terras ancestrais.
O Paquistão também está se beneficiando dos investimentos chineses em infraestrutura de energias renováveis e recentemente iniciou o seu primeiro projeto de energia eólica. Os projetos energéticos do Corredor Econômico China-Paquistão aumentarão em 17,000 MW a capacidade da rede nacional. O problema é que a maioria dessa energia virá de usinas alimentadas a carvão, como a de Sahiwal, em Punjab, Oque terá uma capacidade de 1,3020 MW.
Bangladesh
Durante muito tempo considerada carente de energia e como uma vítima das mudanças climáticas, Bangladesh está em uma situação difícil para suprir suas necessidades energéticas e mitigar seus desastres ambientais. Recentemente, por exemplo, chuvas torrenciais fizeram transbordar o rio Bahmaputra, o que causou o deslocamento de mais de um milhão de pessoas entre a Índia e Bangladesh. Se nada for feito para enfrentar as mudanças climáticas, Bangladesh poderia sofrer perdas de até 9% seu PIB até o ano 2100, e 20-30 milhões de pessoas podem ter que se mudar de lugar.
A economia de Bangladesh está crescendo rápido, mas os recursos naturais locais não são suficientes para suprir a crescente demanda energética (38% da população ainda não tem acesso à eletricidade), o que está causando uma crescente dependência em energia alimentada a petróleo e diesel. Atualmente, o gás natural fornece 64% da energia do país, seguida pelo petróleo (25%), energias renováveis (4%) e carvão (2%).
A mineração de carvão está aumentando com o aumento da demanda energética. Bangladesh é um preocupante ponto de desenvolvimento da energia alimentada a carvão: o país está planejando aumentar em 18 GW sua capacidade em usinas de carvão e já está construindo o equivalente a 4 GW. A maior parte das propostas atuais contam com ajuda internacional, em particular de bancos chineses. Companhias e grupos financeiros chineses controlam mais da metade (12.5 GW, cerca de 56%) da capacidade energética por carvão que o país está desenvolvendo.
Além disso, três terminais de importação de carvão estão sendo construídos. Os mencionados projetos de carvão se têm topado com forte oposição pública relacionada à aquisição de terras, o que tem atrasado a maioria dos projetos.
Sudeste Asiático
Com a população do Sudeste Asiático aumentando, as economias crescendo e a com a expansão da classe média, os países da região se enfrentam ao desafio de conseguir fornecer energia de forma segura, econômica e sustentável. A principal escolha que os governos devem fazer é se vão suprir essa demanda com investimentos em energias renováveis ou em combustíveis fósseis.
Para conseguir um crescimento rápido, porém, o Sudeste Asiático tem seguido uma trajetória de desenvolvimento intensiva em carvão, e virou um grande contribuidor para as emissões de gases de efeito estufa.
- Entre 1990 to 2010, as emissões de dióxido de carbono (CO2) no Sudeste Asiático têm aumentado mais do que em qualquer outra região do mundo.
- As emissões de gases de efeito estufa na região também têm sofrido um incremento de quase 5% por ano nas últimas duas décadas.
- Sem políticas explícitas para reduzir futuras emissões, os níveis de gases de efeito estufa na região serão pelo menos 60% maiores em 2050 do que os níveis de 2010. As emissões do setor energético serão 300% maiores.
Este é o número de minas de carvão anunciadas em cada país da região (em fase de ser autorizadas ou já autorizadas) desde o 1 Janeiro de 2010, de acordo com dados do Global Coal Plant tracker:
- Filipinas: 28 usinas de carvão (22 pre-autorizadas) – mas outras 21 já em construção!
- Indonésia: 88 (78 pre-autorizadas)- 37 em construção
- Vietnã: 67 (52 sem autorização) – 21 mais em construção
É importante lembrar que o Acordo de Paris para as mudanças climáticas foi assinado por todos os países da região. Em 2017, a Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) reafirmou o seu compromisso com o Acordo de Paris para manter a média de temperatura global por baixo dos 2°C. Um dos objetivos da região é obter 23% da sua energia primária de fontes renováveis até 2025.
Em 2015, os combustíveis fósseis representavam 75.2% das fontes de energia da região – com o petróleo como principal combustível (34%), seguido pelo gás (22%) e o carvão (17%). O uso de combustíveis fósseis está concentrado em uns poucos países, sendo Indonésia, Malásia, e Vietnã os que têm as maiores reservas. As energias renováveis fornecem 13.6% da energia, e o resto provém de biomassa e madeira, normalmente em áreas rurais,
Filipinas
O crescimento da economia, o aumento no consumo e a industrialização alimentam a demanda por energia nas Filipinas. Porém, de acordo com o Institute for Climate and Sustainable Cities, Filipinas é “altamente mas desnecessariamente dependente” em carvão importado para a sua produção de eletricidade. O carvão forma cerca de 48% da matriz energética do país, enquanto as energias renováveis fornecem um 24.6%. O país importa mais ou menos 75% do carvão, da Indonésia e da Austrália.
Filipinas tem um dos maiores custos de eletricidade do Sudeste Asiático, apesar de ter um dos menores PIB per capita e um consumo de kilowatt por hora muito baixo, O ano passado, os preços do carvão subiram 60%, o que mostra como países como Filipinas estão sujeitos à volatilidade dos preços e à incerteza do mercado. Analistas acreditam que as usinas de carvão planejadas pelo país estão condenadas a virar “ativos encalhados” . ou seja, que estão obsoletos ou funcionam abaixo do necessário para ser lucrativos. O país tem planos para construir novas usinas de carvão capazes de fornecer mais de 10,000 MW, com um valor estimado de 20,8 bilhões de dólares.
Porém, nos últimos tempos,o governo parece estar mudando a sua atitude de cara aos combustíveis fósseis. Em 2017 foi aumentado pela primeira vez em 30 anos o imposto sobre o carvão (400%).
Alguns temas que podem ser de interesse para jornalistas são: a subida do imposto sobre o carvão, o investimento internacional na indústria do carvão criando uma demanda artificial, planos sobre novas usinas de carvão, e o ativismo comunitário contra investimentos em combustíveis fósseis e usinas de carvão.
Indonésia
Indonésia tem aumentado muito o seu consumo de energia devido a um incremento progressivo da sua população, ao desenvolvimento econômico e a um crescimento na urbanização. Como em outros países asiáticos, Indonésia enfrenta o desafio de aumentar o aumento à eletricidade da sua população ao mesmo tempo que diminui as suas emissões como se comprometeu a fazer no Acordo de Paris.
O carvão constitui cerca de 57 por cento da matriz energética de Indonésia. É o principal exportador de carvão térmico, e o seu consumo está em torno dos 101 milhões de toneladas (o maior no Sudeste Asiático). Em linhas gerais, o governo da Indonésia não reduz sua produção de carvão. Atualmente, a única estratégia que o governo usa para limitar a produção é ao reprovar os Planos de Trabalho e Orçamentos anuais das empresas de mineração.
Recentemente, Indonésia decidiu limitar o preço doméstico do carvão para usinas de energia em $70 por tonelada durante dois anos. O governo quer congelar os custos da eletricidade para proteger a capacidade de compra da população e manter a competitividade das suas indústrias. O limite no carvão elétrico tem como objetivo proteger a central nacional Perusahaan Listrik Negara (PLN) das flutuações nos preços.
Principais estatísticas da Indonésia:
- Principal consumidor de carvão no Sudeste Asiático, e o principal exportador de carvão do mundo.
- Indonésia planeja aumentar em 40 a sua capacidade de carvão.
- Se o país continuar com as taxas de extração atuais, as reservas de petróleo da Indonésia durarão 11 anos, as de carvão 14 e as de gás natural 40.
- As usinas de carvão produzem mais da metade da energia da Indonésia O gás natural contribui com 23 por cento, as energias renováveis com 13 por cento e o diesel o resto.
- Jakarta quer que seus projetos de energias renováveis forneçam quase um quarto da necessidade energético do país em 2025 e um terço em 2050.
- Quase 40% da população vive por baixo ou em até 1.5 vezes a linha da pobreza. Quase metade da população rural ainda não tem acesso à eletricidade.
- Indonésia tem atualmente quase 54.6 gigawatts de capacidade elétrica mas o país quer duplicar esse valor ao longo da próxima década.
Sul da África
África do Sul
África do Sul tem grandes depósitos de carvão e tem a sétima maior quantidade de usinas de carvão do mundo. Está construindo 6 GW de novas centrais de carvão e tem planos de construir mais 6 GW. A opinião política está mudando, porém, desde que Cyril Ramaphosa foi eleito em 2018, e alguns acordos sobre energias renováveis valorizados em $4.7 bilhões foram assinados nesse ano.
Com as centrais novas e as planejadas, África do Sul poderia produzir mais energia da que pode consumir. O país tem 42 GW de capacidade energética com carvão.
Surpreendentemente, a indústria pesada sudafricana é a favor da energia renovável, já que o novo carvão seria mais caro do que as alternativas, como mostram pesquisas independentes.
Um estudo recente viu que o país poderia poupar bilhões se abandonasse as antigas centrais de carvão, suspendesse as duas novas usinas em construção (Kusile units 5 and 6) e cancelasse a construção de novas usinas de carvão.
Em março de 2017, o Alto Tribunal de North Gauteng determinou que estudos de mudanças climáticos devem ser feitos antes de autorização da construção de novas centrais de carvão, o que põe em xeque as futuras estações. A medida supõe uma grande vitória, mas apesar das muitas evidências do seu custo climático, novas usinas a carvão ainda estão sendo construídas.
Zimbabwe
Embora Zimbabwe tenha planejado construir 15 novas centrais de carvão (das quais 6 já estão em fase de pré-autorização), o país já está sofrendo os impactos das mudanças climáticas, já que tem uma sociedade dominada pela agricultura.
Recentemente o governo lançou 3 novas políticas de mudanças climáticas desenhadas para fazer o país mais resistente às pressões climáticas e para conseguir atingir as suas metas internacionais de redução de carbono.
Botswana
Botswana está planejando aumentar a sua capacidade de carvão de 7 usinas para 27 nos próximos anos! Minergy, o produtor de carvão de Botswana, está atualmente tentando conseguir financiamento externo para pagar essa expansão.
Mundo Árabe
Sendo um dos lugares mais ensolarados do planeta, e com os preços do petróleo muito instáveis, o Oriente Média e o Norte da África estão começando a investir em renováveis cada vez mais.
Outra fonte de energia está aumentando na região: embora não chegue nem ao 1% do uso do carvão no mundo, o Oriente Médio e o Norte da África estão planejando construir uma série de usinas a carvão no futuro próximo. Egito, Omã, Irã, Jordão, e os Emirados Árabes todos têm planos de construção de novas centrais.
América Latina
Brasil
Ao contrário da maioria dos países do mundo, a eletricidade no Brasil não depende principalmente de combustíveis fósseis. A fonte principal é a energia hidrelétrica (62.9%), seguida bem de longe pelo gás natural. (Porém, é importante frisar que, embora a energia hidrelétrica seja considerada uma fonte de energia renovável, ela também causa grandes impactos meio ambientais).
Apesar disso, o país ainda apresenta uma grande dependência em combustíveis fósseis. A grande maioria da energia primária vem de combustíveis fósseis, principalmente petróleo (38.6% do total). Embora o consumo de carvão seja relativamente baixo (5.8%), o seu uso tem se mantido estável ao longo das últimas décadas.
O Brasil é um dos países que mais tem aumentado sua produção de gás natural. Entre 1990 e 2017 a produção nacional aumentou 700%.
Nos últimos anos o país tem investido em outras energias renováveis, principalmente energia eólica, cuja produção nacional foi de 2,177 GWh em 2010 para 42,373 GWh em 2017. Apesar disso, menos de 2% as da energia primária total do Brasil vem de fontes renováveis diferentes da hidrelétrica, como a energia solar ou a eólica.
Peru
Com a transição energética global em busca da energia sem emissões, Peru poderia ser um dos países mais beneficiados. Isto é porque tem grandes reservas de cobre, que é um elemento fundamental para a construção das centrais eólicas.
Além disso, a energia renovável está cada vez mais barata e estima-se que será competitiva com os combustíveis fósseis no ano 2020. No Peru, solar o preço da energia solar já baixou até níveis record.
Argentina
Argentina, que possui as segundas maiores reservas de gás shale do mundo e as quartas de petróleo shale, está no meio de um período de transformação com o governo saindo de um regime de protecionismo e se abrindo para investimento estrangeiro na sua indústria de combustíveis fósseis.
Europa
Vários países europeus com centrais a carvão fazem parte da Powering Past Coal Alliance, uma aliança que visa acabar com o carvão até 2030.
Tanto Alemanha como Polônia ainda têm uma grande dependência no carvão para a produção de energia e vários países como República Checa, Grécia, Hungria, Polônia e Romênia têm planos para construir novas centrais de carvão.
Na Grécia, a pressão popular ajudou a derrubar alguns projetos de usinas a carvão e está o grupo “Coalizão contra o carvão” está lutando pela implementação de fontes de energia alternativas e medidas para reduzir o consumo de energia.
Na Eslováquia, está tendo lugar um debate para extinguir o carvão totalmente até 2023.
Outros recursos
- Um mapa interativo que mostra o desenvolvimento da energia ligada ao carvão desde o ano 2000: https://s3.eu-west-2.amazonaws.com/global-coal-map/index.html#
- Uma base de dados global das centrais a carvão no mundo: https://endcoal.org/tracker/
- O relatório de 2018 da Coolswarm, Sierra Club e Greenpeace sobre centrais a carvão : https://endcoal.org/wp-content/uploads/2018/03/BoomAndBust_2018_r6.pdf
- Mapa interativo das fontes de energia no mundo: https://www.eia.gov/beta/international/
- Mapa interativo dos protestos contra combustíveis fósseis no mundo: https://ejatlas.org/featured/blockadia
- Informação sobre subsídios a combustíveis fósseis curada pela organização Oil Change: http://priceofoil.org/